viernes, 26 de noviembre de 2010

Verde, que te quero verde...

Sentei-me como todos os dias, meia hora antes de começar o expediente, para tomar coragem e enfrentar as tão suadas oito horas correndo de um lado pro outro, entre sorrisos, caras-feias, cumprimentos e taças de cafés. Acendi um cigarro, o primeiro do dia, mesmo sabendo que a nicotina tem derramado em mim tanto cansaço que parece que ando numa corrida de São Silvestre eterna. Li o adesivo colado detrás do maço que diz que fumar acorta la vida. Não dei importância. Segui à diante. Pensei e repensei em como foi que o destino me levou com a minha cantiga à outra parte, e como vim parar aqui, justamente aqui onde estou, coisa que faço quase que liturgicamente todos os dias. É parte da minha rotina ficar abobada com essa mania inquieta que a vida tem de nos mover para um lado e para o outro, como se estivesse insatisfeita com a nossa tão típica inércia. Vou como folha verde que se despega de um galho seco qualquer, voando,voando sem saber onde vai dar. Voamos todos sem notar que estamos voando. E só nos damos conta quando paramos em um beco desconhecido, rua de pedra, varandas de sobrados cheias de flores e cata-ventos. Como se despertásemos em um sonho. Desse jeito nos manipula a vida, e te explico como. É assim: primeiro é como se ela soprasse uma idéia incansavelmente no nosso ouvido, vinte e quatro horas ao dia, durante meses, ou durante anos, até que a coisa se assimile meio que por osmose, e o fantoche grite: Sim! Eu tenho um sonho! Sonhos e sonhos. Deixa de ser bobo! Sonhos existem sim, mas não são de ninguém menos que da própria vida; essa mesma que no fim das contas sempre nos convence a ir pelo caminho que vai te levar aonde ela quer. Mas a decisão de ¨deixar-se levar¨ é pessoal. Também há quem morra no mesmo galho em que nasceu. E esse voa de outra maneira. Mas essa outra maneira pouco interessa agora mesmo. A questão é que só faltavam trinta contados minutos para que eu começasse a minha jornada, tinha um cigarro às vezes entre os dedos, às vezes apoiado nos lábios, e, sem perceber odiei a maneira que os segundos do relógio em cima da pia não cansavam de avançar, logo hoje que estaria tão bem ficar em casa e ver a tv, e olhar o mar, e a torre que ela me disse que diz um mito que do alto dela se pode ver a costa irlandesa… Odiei o relógio, e a sua cor não me convencia. Então resolvi olhar para dentro. No peito uma trouxa de saudade encostada num cantinho qualquer de uma parede pintada de azul, e no entorno, amor, muito amor, nas gavetas das cômodas, dentro e fora dos armários, em cima das mesas e dos sofás, espalhados pelo chão, sobre e sob os tapetes – só se encontrava uma copiosa desordem de amor jogados por todos os lados. Foi assim que eu me lembrei que o relógio corria à meu favor, e que era tudo por culpa do verão que tem pressa por chegar já. Nunca esperei tanto por um verão. Bem que eu ainda penso que seria mais bonito que entrássemos na nossa casa num dia colorido qualquer de primavera, mas o amor também é responsabilidade, meu bem, e se convir à vida nosso desejo pode vir a antecipar-se nela. Quando me dei conta depois de pensar, e ver tantas coisas, e cumprimentar a tanta gente, eu sorri, eu chorei, eu lutei, eu corri como os ponteiros e passaram-se três dias mais como num estalar de dedos, e o verão vem vindo, ainda que seja inverno. O verão vem vindo. E quando o verão chegar seremos as duas uma folha só, mais verdes que nunca, voando, voando, voando…

Por Dani Cabrera

2019

Echarte de menos en una tarde como esta, sabiendo que vendrás – que en un par de horas entrarás por la puerta de nuestra casa. Por aqu...